Provavelmente você já deve ter passado pela frustrante experiência de
tentar trocar um produto numa loja e esbarrar numa insana burocracia, prazos e
exigências que te fizeram desistir. Também é provável que já tenha pedido para
trocar um sanduíche no McDonald’s e teve sua solicitação prontamente atendida,
sem perguntas ou desconfiança extras.
Em ambos os casos, a solução tem pouco a ver com o funcionário em si e
tudo a ver com os processos adotados. Este é o tema central da revolucionária
ideia de Vineet Nayar em seu livro “Employees
First, Customers Second” (“Funcionários
em Primeiro, Clientes em Segundo”): deixe os funcionários realizarem seu
trabalho. Ao visitar diversas filiais ao redor do mundo, assim que assumiu o
cargo mais alto da HCLT (gigante indiana da área de TI) Nayar deparou-se com
uma situação comum à maioria delas: os funcionários que tinham mais contato com
os clientes, aqueles que realmente geravam valor para a companhia não recebiam
a devida atenção, tampouco tinham a liberdade necessária para fazê-la
prosperar.
Os níveis gerenciais estavam distantes do que chamou de “Zona de Valor”
e atrapalhavam as melhores iniciativas. Sua visão consistia em ajudar na
relação entre colaboradores e clientes – ou ao menos deixar de atrapalhar as
importantes interações com o mundo exterior. As mudanças implementadas por ele
sustentaram-se em dois pilares: transparência e quebra de hierarquia.

Nayar também criou canais específicos de comunicação para que todos
pudessem manifestar suas queixas e sugestões, além de resolver problemas
pessoais ou de suas áreas. Mas a maior revolução talvez tenha ocorrido nas
avaliações de desempenho, que saíram da alçada do RH e deixaram de ser
atreladas ao pagamento de bônus, passando a focar exclusivamente no desenvolvimento
do funcionário. Além disso, sua mecânica permitia que qualquer empregado
avaliasse quem quer que fosse, desde que guardasse alguma relação de trabalho
com a pessoa.
Tal medida teve o efeito colateral de revelar estruturas informais de
poder, expondo o grau de influência de cada colaborador, independentemente de
sua posição. Com a divulgação de absolutamente todos os resultados deste
processo, Nayar conseguiu inverter a hierarquia formal da empresa, garantindo
voz aos funcionários e permitindo que efetivamente criassem valor em suas
atividades.
É interessante notar, ainda, que em seu objetivo de colocar os
funcionários em primeiro lugar, Nayar não dedicou um parágrafo sequer a
salários ou benefícios. Talvez entenda que a empresa que realmente deseje ter
este perfil já tenha feito este dever de casa. Ou que as atitudes aqui
descritas representem um fator motivacional muito além do dinheiro ou bons
planos de saúde. Ou, quem sabe, ambas as opções.
Não deixe de ler: “Employees
First, Customers Second” (“Funcionários em Primeiro, Clientes em Segundo), de
Vineet Nayar, subverte a Administração tradicional que coloca os consumidores
como a prioridade máxima para as empresas. Editora: Harvard Business Press, 208
págs.
Autor: Rodolfo Araújo - Mestre
em Administração de Empresas pela PUC-RJ, Pós-Graduado em Tecnologia de
Informação pela FGV-RJ e Bacharel em Comunicação Social pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro - www.naopossoevitar.com.br