Às vezes, os competentes se calam para não constranger
os incompetentes. Ledo engano. Só a discordância pode mudar comportamentos.
A sociedade ocidental, ao caminhar no sentido de uma
aquisição de práticas de comportamento que fossem politicamente corretas,
acabou por inibir – e, às vezes, coibir – uma das mais importantes reações do
ser humano: a sua capacidade de se indignar. Diante de uma injustiça, uma falha
grave, um desaforo, o ser humano, pressionado pelo denominado controle do temperamento,
acaba por anestesiar a sua capacidade de se indignar. Ao lidar com os fatos da
vida e fazer seus julgamentos, o cidadão usa sua escala de valores, e são eles
que definem sua inserção na sociedade. Indignar-se com o absurdo é um valor.
Ao deparar com uma notícia escabrosa de corrupção, com
um crime hediondo, com uma atitude inverossímil, o cidadão tem de claramente
manifestar sua contrariedade. Mais que criticar ou censurar, é necessário
demonstrar com clareza a indignação com o fato. É por falta dessa posição firme
que equipes não melhoram seu desempenho. Se houvesse a reação correta e
explícita, os comportamentos mudariam o esforço para alcançar os resultados
seriam maior e o benefício coletivo apareceria.
Muitas vezes, os competentes calam para não constranger
os incompetentes. Ledo engano. Só a discordância pode mudar comportamentos. A
leniência sempre foi inimiga da boa performance. As pessoas ficam surpresas
quando ouvem Neymar, o craque do Santos, criticar a baixa dedicação de alguns
companheiros de time. Vêem nisso uma falta de coleguismo. Nada disso. É o mais
puro e legítimo desapontamento de quem se esforça contra quem não faz o
mesmo. Na empresa a situação é parecida. Muitos se calam para não criar
mal-estar – às vezes, preferem deixar a companhia. Melhor seria se
demonstrassem indignação.
É preciso gerar desconforto para criar prontidão e
atenção na equipe. O que recomendo, no entanto, é que a demonstração seja
polida, calma, sem gritos, mas com muita consistência. O ato de se indignar
deve ser baseado em fatos e não somente em opiniões. E ele somente é para valer
se for consubstancial, do contrário será considerado como um estertor, um
chilique, e não vai trazer o benefício comum. É esperançoso ver a indignação
demonstrada, por exemplo, por vários de nossos juízes do Supremo tribunal
Federal. Indignar-se é um ato cidadão.
Autor: Luiz Carlos
Cabrera – Professor da Eaesp-FGV, diretor da Amrop Panelli Motta Cabrera e
membro do Advisory Board da Amrop Internacional.
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