O norte-americano Edwards Deming seguramente foi um
dos homens que mais influenciou o mundo durante o século XX. Estatístico, foi
ele quem criou e ajudou a popularizar grande parte dos princípios de Gestão da
Qualidade que o mundo inteiro respeita e segue até hoje.
Todavia, mesmo
trabalhando em importantes órgãos governamentais dos EUA, seu trabalho ganhou
notoriedade mundial somente após a decisão bem-sucedida de aceitar o convite do
governo japonês no início dos anos 50 para ajudá-los a reconstruir sua indústria
nacional após a perda da Segunda Grande Guerra.
Lá ele encontrou
um terreno tão fértil para implantar suas ideias que em poucos anos já era
considerado o grande mestre do renascimento industrial japonês, tendo recebido
das mãos do próprio imperador Hirohito a maior condecoração dada a um
estrangeiro. Reconhecimento que só viria a alcançar em seu próprio país anos
depois.
No Brasil, seus
conceitos de gestão começaram a ser aplicados nas empresas a partir de meados
de 1980 e alcançaram o grande público mais adiante quando as boas práticas de processos, rotinas e diretrizes
defendidas por ele e seus seguidores foram implantadas com sucesso em
companhias nacionais.
Por outro lado,
se é verdade que uma série de siglas – como PDCA, 5S, 5W2H e ISO 9001 – passou
a fazer parte do jargão corporativo desde então, também é inegável que muitas empresas
não querem nem ouvir falar de qualidade total hoje em dia, especialmente depois
dos sucessivos fracassos obtidos em suas peripécias rumo à modernidade.
Pouco se fala e
escreve a respeito, mas várias corporações brasileiras não alcançaram o mesmo
êxito das companhias orientais na implantação de alguns modelos de gestão por
causa da imensa distância entre os valores culturais daqui e de lá. Tentamos
aplicar com pressa em terras tupiniquins métodos que exigem mudanças culturais que não acontecem de
uma hora para a outra.
No Japão, por
exemplo, o conhecimento é socializado pelas pessoas em seu cotidiano e de
maneira informal, o que favorece a rápida disseminação e aderência às novas
práticas. Bem diferente daqui, onde se sabe que o registro formalizado é o
grande impulsionador quando alguém não quer fazer alguma coisa nova. “Já enviou
o e-mail solicitando?” é praticamente um mantra hoje em dia nas companhias.
Outra diferença
cultural relevante é que os orientais possuem um senso de coletivismo que
compromete as pessoas com o bem comum e foi construído a duras penas, ao terem
de lidar com as mais variadas catástrofes, como o tsunami que assolou o Japão
no ano passado. Já no Brasil há uma profunda exaltação ao individualismo (como
nos EUA) e pouco apreço ao bem público.
Enquanto o foco
das empresas japonesas está dirigido ao longo prazo, as pessoas se voltam ao
cumprimento daquilo que planejaram e aguardam o tempo necessário para o alcance
dos resultados, nossas
organizações têm por hábito dirigirem esforços para o curto prazo e não é raro
que ótimos projetos sejam abortados quando as coisas não dão certo pela
primeira vez.
Antes de
implantar um novo modismo de gestão em sua empresa procure conhecer quais os
valores culturais que serão imprescindíveis durante a implantação do projeto.
Às vezes boas ideias não dão certo e a tendência é acreditarmos que apenas
faltou o necessário comprometimento das pessoas. Há situações nas quais isto é
verdade, porém em outras existem barreiras muito mais profundas e,
principalmente, invisíveis a olho nu.
Chegou o momento
de também criarmos “management made in
Brazil” que respeite nossas características culturais em vez de importar a
torto e direito aquilo que deu certo nos EUA, Europa ou países asiáticos. Nunca
seremos tão disciplinados como os japoneses ou autoconfiantes como os
norte-americanos, nem eles tão criativos e deliberadamente imprevisíveis como
nós.
Pense nisto e uma boa semana.
Autor: Wellington Moreira - Palestrante e
consultor empresarial nas áreas de Desenvolvimento Gerencial e Gestão de
Carreiras, também é professor universitário em cursos de pós-graduação. http://www.caputconsultoria.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário