Há um tempo atrás li excelente texto de Júlio Clebsch, Gerente Editorial da
Revista Liderança e fiz muito bem em guarda-lo, pois as coisas custam muito a
mudar em nosso pais, infelizmente para todos nós.
Hoje resolvi reproduzi-lo para que as pessoas reflitam sobre o assunto e
que tenham a oportunidade de debatê-lo com outras pessoas. Só assim,
conseguiremos transformar o nosso Brasil!
Existem muitas coisas que caracterizam este país. Entre elas, podemos
citar a tolerância com que nós, brasileiros, aceitamos as “transgressões leves”
ou, se preferir, os pequenos delitos. Trata-se, além do futebol, samba e carnaval,
de uma instituição nacional. Iniciarei este editorial citando as mais comuns:
- As famosas festinhas que não
respeitam horários e incomodam os vizinhos.
- Furar filas nos mais diversos locais em que
elas são necessárias e ainda se passar por esperto.
- Há aqueles que, ao primeiro sinal de
engarrafamento, põem o carro no acostamento e seguem em frente.
- Há outros que “levam” pequenas lembranças de
hotéis e companhias aéreas. Você que não leva nada (burro) está pagando
por esses custos, sabia? As empresas, que não são burras, agregam esses
valores nos preços finais.
- Os que pagam metade da tarifa do ônibus ao
“acertarem” esse valor com o trocador e passam por baixo da roleta.
- E o pai que condena veementemente a cola,
desde que ela seja praticada pelo filho do vizinho. Se o dele assim
proceder, é esperteza.
Dessas pequenas transgressões, podemos evoluir para mais algumas. Nada,
também, muito sério:
- Aquele dinheirinho que a gente
paga para o guarda “esquecer” aquela infração de trânsito insignificante.
- O varejista que se aproveita da boa-fé do
cliente. Você acha que isso não acontece? Então, vai ver que a famosa
expressão “freguês de carteirinha” nasceu de geração espontânea! Aliás, em
que outro país do mundo, além do Brasil, a palavra “freguês” é sinônimo de
otário?
- Há os que exaltam o elevado índice de
malandros que habitam o Congresso Nacional, mas que não perdem a
oportunidade de comprar um CD pirata na feirinha da cidade.
- Aliás, o mesmo lojista que denuncia os
vendedores de CDs piratas pratica o famoso caixa dois. Acho que ele se
baseia no famoso ditado: “Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.
Como crimes – sejam eles pequenos ou não – quase sempre mantêm conexões
com outros crimes, chegamos a coisas do tipo:
- O dublê de bom-moço e bicheiro
Waldemir Paes Garcia, codinome Maninho, lembra? Foi assassinado anos atrás
no Rio de Janeiro. Pobre cidadão. Comoção estadual. Claro, durante muitos
anos o jogo do bicho foi visto como algo positivo, uma expressão lúdica da
personalidade tupiniquim, uma transgressão leve. Afinal, as 1,4 mil bancas
do jogo e os 7 mil caça-níqueis que ele controlava na cidade maravilhosa
geravam empregos. Foi isso que me fez entender o porquê das diversas
celebridades que se apresentaram no funeral do rapaz. Entre elas, estavam
lá: Edmundo, “o Animal”; o “páginas amarelas” da Veja,
Romário; o ídolo do Flamengo, Grêmio e Fluminense, Renato Gaúcho (atual
técnico do Grêmio), além de famosos da sociedade carioca.
- Durante a campanha do desarmamento, houve
indivíduos que construíram armas com o intuito de faturar um “extra”.
- Várias pessoas se apresentaram como vítimas do
desabamento do Palace II. Também queriam ver se faturavam um “extra”.
Ajudem-me a elucidar um dilema: quem é pior, o Sérgio Naya ou as falsas
vítimas de seu empreendimento picareta?
- E o Gugu, famoso ex-apresentador do SBT, que
autorizou uma falácia para milhões de telespectadores e continua livre,
leve e solto. Lembra-se disso?
A cultura da
esperteza e do trambique – só o leve, é claro – está tão arraigada em nossa
sociedade que ser um cidadão modelo exige que se reme contra a maré ou que se
beire a santidade. Não à toa, a figura do malandro virou até ópera. Por essas e
outras, passei a diferenciar esperteza de inteligência, apesar de serem
sinônimos.
Para mim, esperto é o cidadão que vive de pequenos golpes e vai passar toda a sua vida pensando no curto prazo e escapando de seus perseguidores – como o personagem Sísifo, da mitologia grega. O inteligente é aquele cidadão que vai desenvolver sua vida de forma a não ter de aplicar pequenos golpes nem passar todo o tempo tentando burlar a lei. Ele vive para o longo prazo e dorme com a consciência tranquila. Por mais que, muitas vezes, passe por burro, freguês e otário.
Um grande abraço e até a semana que vem.
Para mim, esperto é o cidadão que vive de pequenos golpes e vai passar toda a sua vida pensando no curto prazo e escapando de seus perseguidores – como o personagem Sísifo, da mitologia grega. O inteligente é aquele cidadão que vai desenvolver sua vida de forma a não ter de aplicar pequenos golpes nem passar todo o tempo tentando burlar a lei. Ele vive para o longo prazo e dorme com a consciência tranquila. Por mais que, muitas vezes, passe por burro, freguês e otário.
Um grande abraço e até a semana que vem.
Autor: Júlio Clebsch - Gerente editorial da revista Editora Quantum- julio@editoraquantum.com.br
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