Cresce o número de pessoas humanas
que já não sabem mais o que fazer de suas próprias vidas. Há um milhão de
oportunidades e ao mesmo tempo não sabem chegar ao final de nenhuma delas; a
existência se tornou um desafio quase insuperável. Diante de tantas possibilidades,
vivem sem demorar em nada. Cada dia, querem uma coisa. Até já desaprenderam o
significado de saber querer.
O poeta já dizia: “Abelha fazendo mel
vale o tempo que não voou”.
É verdade. Nem sempre é tempo para
voos, lançamentos, resultados. Não há sucesso que não tenha sido gestado no
silêncio, na pausa. O tempo do cultivo e de preparo é marcado pelas renúncias,
disciplinas, quietudes e demoras.
O mel só pode ser produzido, porque a
abelha sabe demorar na flor. Se vivesse voando, não seria capaz de produzir a
beleza que é específica de sua espécie.
Voar é bom, mas nem sempre é tempo de
voar. A natureza nos ensina isso. Observemos os pássaros. Para que possam voar
eles necessitam de asas e elas não crescem da noite para o dia. Enquanto não
possuem asas suficientemente fortes para lhes sustentar o voo, os filhotes
observam e aprendem com os pais. Permanecer no ninho é a única coisa que podem
fazer. O ninho é o lugar do cultivo e da espera. Depois, somente depois, é que
virá o tempo de buscar as alturas.
Não há futuro sem presente. Preparar
o futuro consiste em viver bem o momento atual. Essa é a sabedoria que
precisamos assimilar todos os dias. Somos tentados constantemente a transformar
nossas vidas em eternas iniciativas. Iniciamos, mas não terminamos nada. E não
terminamos, justamente por não termos a paciência necessária do cultivo de cada
dia.
Começar é fácil, difícil é levar
adiante o que foi começado. Exige coragem, sangue, luta. Exige a superação dos
pequenos entraves, a relação constante com os limites que são próprios das
escolhas. A vida não é perfeita. Nem precisa ser. É no precário da existência
que descobrimos a criatividade que gera a transformação. Por isso, é tão
importante insistir, não desanimar no primeiro desestímulo. Só poderá andar
grandes distâncias aquele que não se fixar na pequenez dos seus pés.
As abelhas e os pássaros podem nos
ensinar a viver. Há uma sabedoria bíblica que nos ensina que, debaixo do céu,
há tempo para cada coisa. Uma coisa é certa: sempre há tempo de vencer. Esta
vitória pode se manifestar de formas muito diversas em nossa vida. Ela, porém,
só pode ser experimentada, se compreendermos que, no empenho do preparo, já há
uma possibilidade de provar o sabor da vitória.
Pense nisto e tenha uma ótima semana!
Autor: Dom Jacinto Bergmann, arcebispo
metropolitano da Igreja Católica de Pelotas, no Diário Popular - http://www.diariopopular.com.br/
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