Prof. Peter Senge |
Quando perguntamos às pessoas como é a
experiência de fazer parte de uma excelente equipe, o que destacam é o
significado dessa experiência. As pessoas falam em fazer parte de algo maior do
que elas mesmas, de estarem conectadas, de serem produtivas. Fica bastante
claro que, para muitas delas, suas experiências como parte de equipes realmente
excelentes sobressaem como períodos singulares, vividos ao máximo. Algumas
passam o resto da vida buscando fórmulas de recapturar esse espírito.
Na cultura ocidental, a palavra que
descreve com maior precisão o que acontece em uma organização que aprende não
foi muito usada nos últimos séculos. Trata-se de uma palavra que empregamos em
nosso trabalho com as organizações há algumas décadas, mas sempre as
advertimos, bem como a nós mesmos, para fazer uso dela comedidamente em
público. A palavra é “metanoia” e significa mudança
de mentalidade. Esse termo tem uma história rica.
Para os gregos, significava uma mudança ou alteração
fundamental ou, mais literalmente, transcendência (“meta” – acima ou além, como
em “metafísica”) da mente (“noia” – da raiz “nous”, da mente). Na tradição
cristã gnóstica mais recente, assumiu um significado especial – o despertar da
intuição compartilhada e o conhecimento direto de Deus. “Metanoia”
provavelmente era um termo chave para os primeiros cristãos, como João Batista.
Na tradição católica, a palavra metanoia acabou sendo traduzida como “arrependimento”.
Entender o sentido de “metanoia” é entender
o significado mais profundo de “aprendizagem”, pois essa também envolve uma
alteração fundamental ou movimento da mente. O problema de se falar sobre
“organizações que aprendem” é que
“aprendizagem” perdeu seu significado central no uso contemporâneo. A
maioria das pessoas chega a desviar o olhar quando falamos sobre “aprendizagem”
ou “organizações que aprendem”. Não é surpresa, portanto, que no uso cotidiano
aprendizado tenha se tornado sinônimo de “internalização de informações”. “Sim,
aprendi isso naquele curso de ontem”. No entanto, a internalização de
informações tem pouca relação com o verdadeiro aprendizado. Seria um contrassenso
dizer: “Acabei de ler um excelente livro que ensina a andar de bicicleta –
agora já sei andar de bicicleta”.
A verdadeira aprendizagem chega ao coração
do que significa ser humano. Através da aprendizagem, nos recriamos. Através da
aprendizagem tornamo-nos capazes de fazer algo que nunca fomos capazes de
fazer. Através da aprendizagem percebemos novamente o mundo e nossa relação com
ele. Através da aprendizagem ampliamos nossa capacidade de criar, de fazer
parte do processo gerativo da vida. Existe dentro de nós uma intensa sede para
este tipo de aprendizagem. É, nas palavras de Bill O’Brien, da Hanover Insurance, “tão fundamental para o ser
humano quanto o desejo sexual”.
É esse, portanto, o significado básico de
uma “organização que aprende” – uma organização que esta continuamente
expandindo sua capacidade de criar seu futuro. Para uma organização como essa,
não basta apenas sobreviver. “A aprendizagem visando a sobrevivência” ou o que
conhecemos mais comumente como “aprendizagem adaptativa” é importante – na
verdade, é necessária. Mas, para uma organização que aprende, a “aprendizagem
adaptativa” deve ser somada à “aprendizagem generativa”, a aprendizagem que
amplia nossa capacidade de criar.
Algumas corajosas empresas pioneiras estão
indicando o caminho, mas o território do desenvolvimento das organizações que
aprendem continua, em grande parte, inexplorado.
Faça sua empresa ser diferente: amplie a
sua capacidade de criar!
Pense nisto e boa semana!
Autor:
Peter Senge – em “A Quinta Disciplina” -
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