Ao ler hoje o jornal, no café da manhã, deparar com a notícia que “o Brasil evoluiu, mas segue nas últimas
posições em ranking de educação”.
O Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou “que
os resultados do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa, na
sigla em inglês), divulgados nesta terça-feira (3), representam 'grande
vitória' para a educação no Brasil. Já especialistas consideram a evolução
'tímida'”.
A notícia levou-me a reflexão sobre o
artigo do educador paulista Pedro de Camargo intitulado “Instrução e Educação”.
Leiam e também reflitam sobre ele.
É preciso não confundir instrução com educação. A educação abrange a
instrução, mas pode haver instrução desacompanhada de educação.
A instrução relaciona-se com o intelecto: a educação com o caráter.
Instruir é ilustrar a mente com certa soma de conhecimentos sobre um ou vários
ramos científicos. Educar é desenvolver os poderes do espírito, não só na
aquisição do saber, como especialmente na formação e consolidação do caráter.
O intelectualismo não supre o cultivo dos sentimentos. "Não basta ter coração, é preciso ter bom
coração", disse Hilário Ribeiro, o educador emérito cuja
extraordinária competência pedagógica estava na altura da modéstia e da
simplicidade que lhe exornam o formoso espírito.
Razão e coração devem marchar unidos na obra do aperfeiçoamento do
espírito, pois em tal importa o senso da vida. Descurar a aprendizagem da virtude,
deixando-se levar pelos deslumbramentos da inteligência, é erro de funestas
conseqüências.
Sobre este assunto, não há muito, o presidente dos Estados Unidos da
América do Norte citou um julgado da Suprema
Corte de Justiça de Massachusetts, no qual, entre outros princípios de grande
importância, se enunciou o de que "o
poder intelectual só e a formação científica, sem integridade de caráter,
podem ser mais prejudiciais que a ignorância. A Inteligência superiormente
instruída, aliada ao desprezo as virtudes fundamentais, constitui uma ameaça". do momento atual se
resumem em uma questão de caráter: só pela educação podem ser solucionados.
Convém acentuar. aqui que a consciência religiosa corresponde, neste
particular, ao fator principal na formação dos
caracteres. Já de propósito usamos a expressão - consciência religiosa - ao
invés de religião, para que se não confundam idéias distintas entre si.
Religiões há muitas, mas a consciência religiosa é uma só: Por essa designação
entendemos o império interior da moral pura, universal e imutável conforme foi
ensinada e exemplificada por Jesus Cristo. A consciência religiosa
importa em um modo de ser, e não em um modo de crer.
É
possível que nos objetem: mas, a moral cristã é tão velha, e nada tem
produzido de eficiente na reforma dos costumes. Retrucaremos: não pode ser
velho aquilo que não foi usado. A moral cristã é, em sua pureza e em sua
essência, desconhecida da Humanidade. Sua atuação ainda não se fez sentir
ostensivamente. O que se tem espalhado como sendo o Cristianismo é a sua
contrafação. Da sanção dessa moral é que esta dependendo a felicidade humana
sob todos os aspectos.
O intelectualismo repetimos, não resolve os grandes problemas sociais
que estão convulsionando o mundo. O fracasso da Liga das Nações é um exemplo
frisante; e, como esse, muitos outros estão patentes para os que têm olhos de
ver.
Bem judiciosas são as seguintes considerações de Vieira sobre o
inestimável valor da educação sob seu aspecto moral:
"Em todas as ciências é certo
que há muitos erros, dos quais nasce a diferença de opiniões; em todas as
ciências há muitas ignorâncias, as quais confessam todos os maiores letrados
que não compreendem nem alcançam. Pois se veio a Sabedoria divina ao mundo,
por que não alumiou estes erros, por que não tirou estas ignorâncias? Porque
errar ou acertar em todas as matérias, sabê-las ou não as saber, pouca coisa
importa; o que só importa é saber salvar, o que só importa é acertar a ser bom:
e isto é o que nos veio ensinar o Filho de Deus. Nem ensinou aos filósofos a
composição dos continentes, nem aos geômetras a quadratura do círculo, nem aos
mareantes a altura de Leste e Oeste, nem aos químicos o descobrimento da pedra
filosofal, nem aos médicos as virtudes das ervas, das plantas e dos mesmos
elementos; nem aos astrólogos e astrônomos o curso, a grandeza, o número e as
influências dos astros: só nos ensinou a ser humildes, só nos ensinou a ser
castos, só nos ensinou a fugir da avareza, só nos ensinou a perdoar as injúrias,
só nos ensinou a sofrer perseguições pela causa da justiça, só nos ensinou a
chorar e aborrecer o pecado e amar e exercitar a virtude; porque estas são as
regras e as conclusões, estes os preceitos e os teoremas por onde se aprende a
ser bom, a ser justo, que é a ciência que professou e veio ensinar o Filho de
Deus."
É de semelhante espécie de ensino que precisam os homens de nossos
dias. Demasiada importância se liga às várias modalidades do saber,
descurando-se o principal, que é a ciência do bem.
Os pais geralmente se preocupam com a carreira que os filhos deverão
seguir, deixando-se impressionar pelo brilho e pelo resultado utilitário que
de tais carreiras possam advir. No entanto, deixam de atentar para a questão
fundamental da vida, que se resolve em criar e consolidar o caráter. Antes de
tudo, e acima de tudo, os pais devem curar da educação moral dos filhos,
relegando às inclinações e vocações de cada um a escolha da profissão, como
acessório.
A crise que assoberba o mundo é a crise de caráter, responsável por
todas as outras.
O momento reclama a ação de homens honestos, escrupulosos, possuídos do
espírito de justiça e compenetrados das suas responsabilidades.
Temos vivido sob o despotismo da inteligência. Cumpre sacudir-lhe o jugo fascinador, proclamando o reinado do caráter,
o império da consciência, da moral e dos sentimentos.
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