Revendo meus arquivos de textos que são enviados
por amigos, alunos, clientes e até por pessoas que não conheço e que resolvem
enviar seus artigos para que eu opine ou simplesmente guarde para publicar numa
oportunidade, encontrei uma preciosidade escrita por José Alberto Gueiros e
publicada no Jornal da Bahia, há três décadas.
Decidi transcreve-lo aqui pela inteligência do
autor e o brilhantismo que abordou o tema.
Quando
Winston Churchill, ainda jovem, acabou de pronunciar seu discurso de estreia na
Câmara dos Comuns, foi perguntar a um velho parlamentar, amigo de seu pai, o
que tinha achado do seu primeiro desempenho naquela assembleia de vedetes
políticas.
O
velho pôs a mão no ombro de Churchill e disse, em tom paternal:
- Meu jovem, você cometeu um grande erro. Foi muito
brilhante neste seu primeiro discurso na Casa. Isso é imperdoável! Devia ter
começado um pouco mais na sombra. Devia ter gaguejado um pouco. Com a inteligência
que demonstrou hoje, deve ter conquistado, no mínimo, uns trinta inimigos. O
talento assusta.
Ali
estava uma das melhores lições de abismo que um velho sábio pôde dar ao pupilo
que se iniciava em uma carreira difícil.
Isso,
na Inglaterra. Imaginem aqui, no Brasil.
Não
é demais lembrar a famosa trova de Ruy Barbosa:
- Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que,
às vezes, fico pensando que a burrice é uma Ciência.
A
maior parte das pessoas encasteladas em posições políticas é medíocre e tem um
indisfarçável medo da inteligência.
Temos
de admitir que, de um modo geral, os medíocres são mais obstinados na conquista
de posições. Sabem ocupar os espaços vazios deixados pelos talentosos displicentes
que não revelam o apetite do poder.
Mas,
é preciso considerar que esses medíocres ladinos, oportunistas e ambiciosos,
têm o hábito de salvaguardar suas posições conquistadas com verdadeiras
muralhas de granito por onde talentosos não conseguem passar.
Em
todas as áreas encontramos dessas fortalezas estabelecidas, as panelinhas do
arrivismo, inexpugnáveis às legiões dos lúcidos. Dentro desse raciocínio, que
poderia ser uma extensão do "Elogio da Loucura", de Erasmo de
Roterdan, somos forçados a admitir que uma pessoa precisa fingir de burra se
quiser vencer na vida.
É
pecado fazer sombra a alguém até numa conversa social.
Assim
como um grupo de senhoras burguesas bem casadas boicota, automaticamente, a entrada
de uma jovem mulher bonita no seu círculo de convivência, por medo de perder
seus maridos, também os encastelados medíocres se fecham como ostras, à simples
aparição de um talentoso jovem que os possa ameaçar.
Eles
conhecem bem suas limitações, sabem como lhes custa desempenhar tarefas que os
mais dotados realizam com uma perna nas costas...
Enfim,
na medida em que admiram a facilidade com que os mais lúcidos resolvem
problemas, os medíocres os repudiam para se defender.
É
um paradoxo angustiante!
Infelizmente,
temos de viver segundo essas regras absurdas que transformam a inteligência
numa espécie de desvantagem perante a vida.
Como
é sábio o velho conselho de Nelson Rodrigues...
Finge-te de idiota, e terás o céu e a terra.
O
problema é que os inteligentes gostam de brilhar! Que Deus os proteja, então, dos medíocres!...
Fonte: José Alberto Gueiros – Publicado pelo Jornal
da Bahia
em 23/09/1979.
2 comentários:
Eu já tinha lido esse comentário sobe Crurchill, mas a explicação sobre o medo da inteligência foi feita de uma maneira bem diferente e por incrível que parece é uma verdade que incomoda!
Repliquei o teu post neste endereço: http://debatendo-a-educacao.blogspot.com.br/2015/09/o-medo-causado-pela-inteligencia.html
Postar um comentário