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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

INSTRUÇÃO E EDUCAÇÃO

Ao ler hoje o jornal, no café da manhã, deparar com a notícia que “o Brasil evoluiu, mas segue nas últimas posições em ranking de educação”.

O Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, afirmou “que os resultados do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), divulgados nesta terça-feira (3), representam 'grande vitória' para a educação no Brasil. Já especialistas consideram a evolução 'tímida'”.

A notícia levou-me a reflexão sobre o artigo do educador paulista Pedro de Camargo intitulado “Instrução e Educação”. Leiam e também reflitam sobre ele.

É preciso não confundir instrução com educa­ção. A educação abrange a instrução, mas pode ha­ver instrução desacompanhada de educação.

A instrução relaciona-se com o intelecto: a edu­cação com o caráter. Instruir é ilustrar a mente com certa soma de conhecimentos sobre um ou vários ramos científicos. Educar é desenvolver os poderes do espírito, não só na aquisição do saber, como especialmente na formação e consolidação do caráter.

O intelectualismo não supre o cultivo dos sen­timentos. "Não basta ter coração, é preciso ter bom coração", disse Hilário Ribeiro, o educador emérito cuja extraordinária competência pedagógica estava na altura da modéstia e da simplicidade que lhe exornam o formoso espírito.
Razão e coração devem marchar unidos na obra do aperfeiçoamento do espírito, pois em tal impor­ta o senso da vida. Descurar a aprendizagem da vir­tude, deixando-se levar pelos deslumbramentos da inteligência, é erro de funestas conseqüências.

Sobre este assunto, não há muito, o presidente dos Estados Unidos da América do Norte citou um julgado da Suprema Corte de Justiça de Massa­chusetts, no qual, entre outros princípios de grande importância, se enunciou o de que "o poder inte­lectual só e a formação científica, sem integridade de caráter, podem ser mais prejudiciais que a igno­rância. A Inteligência superiormente instruída, alia­da ao desprezo as virtudes fundamentais, consti­tui uma ameaça". do momento atual se resumem em uma questão de caráter: só pela educação podem ser solucionados.

Convém acentuar. aqui que a consciência reli­giosa corresponde, neste particular, ao fator prin­cipal na formação dos caracteres. Já de propósito usamos a expressão - consciência religiosa - ao invés de religião, para que se não confundam idéias distintas entre si. Religiões há muitas, mas a cons­ciência religiosa é uma só: Por essa designação entendemos o império interior da moral pura, uni­versal e imutável conforme foi ensinada  e exem­plificada por Jesus Cristo. A consciência religiosa importa em um modo de ser, e não em um modo de crer.

É possível que nos objetem: mas, a moral cris­tã é tão velha, e nada tem produzido de eficiente na reforma dos costumes. Retrucaremos: não pode ser velho aquilo que não foi usado. A moral cristã é, em sua pureza e em sua essência, desconhecida da Humanidade. Sua atuação ainda não se fez sen­tir ostensivamente. O que se tem espalhado como sendo o Cristianismo é a sua contrafação. Da sanção dessa moral é que esta dependendo a felicidade hu­mana sob todos os aspectos.

O intelectualismo repetimos, não resolve os grandes problemas sociais que estão convulsionando o mundo. O fracasso da Liga das Nações é um exem­plo frisante; e, como esse, muitos outros estão pa­tentes para os que têm olhos de ver.

Bem judiciosas são as seguintes considerações de Vieira sobre o inestimável valor da educação sob seu aspecto moral:

"Em todas as ciências é certo que há muitos erros, dos quais nasce a diferença de opiniões; em todas as ciências há muitas ignorâncias, as quais confessam todos os maiores letrados que não com­preendem nem alcançam. Pois se veio a Sabedoria divina ao mundo, por que não alumiou estes erros, por que não tirou estas ignorâncias? Porque errar ou acertar em todas as matérias, sabê-las ou não as saber, pouca coisa importa; o que só importa é saber salvar, o que só importa é acertar a ser bom: e isto é o que nos veio ensinar o Filho de Deus. Nem ensinou aos filósofos a composição dos conti­nentes, nem aos geômetras a quadratura do círculo, nem aos mareantes a altura de Leste e Oeste, nem aos químicos o descobrimento da pedra filosofal, nem aos médicos as virtudes das ervas, das plantas e dos mesmos elementos; nem aos astrólogos e as­trônomos o curso, a grandeza, o número e as in­fluências dos astros: só nos ensinou a ser humildes, só nos ensinou a ser castos, só nos ensinou a fugir da avareza, só nos ensinou a perdoar as injúrias, só nos ensinou a sofrer perseguições pela causa da justiça, só nos ensinou a chorar e aborrecer o pe­cado e amar e exercitar a virtude; porque estas são as regras e as conclusões, estes os preceitos e os teoremas por onde se aprende a ser bom, a ser jus­to, que é a ciência que professou e veio ensinar o Filho de Deus."

É de semelhante espécie de ensino que preci­sam os homens de nossos dias. Demasiada importância se liga às várias moda­lidades do saber, descurando-se o principal, que é a ciência do bem.

Os pais geralmente se preocupam com a car­reira que os filhos deverão seguir, deixando-se im­pressionar pelo brilho e pelo resultado utilitário que de tais carreiras possam advir. No entanto, dei­xam de atentar para a questão fundamental da vida, que se resolve em criar e consolidar o caráter. An­tes de tudo, e acima de tudo, os pais devem curar da educação moral dos filhos, relegando às inclina­ções e vocações de cada um a escolha da profissão, como acessório.
A crise que assoberba o mundo é a crise de ca­ráter, responsável por todas as outras.

O momento reclama a ação de homens hones­tos, escrupulosos, possuídos do espírito de justiça e compenetrados das suas responsabilidades.

Temos vivido sob o despotismo da inteligência. Cumpre sacudir-lhe o jugo fascinador, proclamando o reinado do caráter, o império da consciência, da moral e dos sentimentos.

Autor: Pedro de Camargo (Vinicius)educador e divulgador espírita brasileiro. Os seus trabalhos na área da Educação são até hoje referência sobre o assunto. Adotou o pseudônimo de Vinícius e por mais de cinqüenta anos serviu ao movimento espírita brasileiro, sendo considerado um de seus expoentes no Estado de São Paulo.

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