A motivação para este artigo surgiu durante uma reunião de
mentoring com um jovem e promissor executivo, que ficou furioso comigo, quando
lhe disse que era pago pela organização para contribuir com sua equipe para o
lucro, a segurança e o desenvolvimento da empresa e, não, pretensiosamente,
tentar ser justo. A partir deste acontecimento observei que mesmo executivos
experientes, com frequência, ficam prisioneiros dessa armadilha retórica e
paralisante.
Justo nos remete a qualidade Divina, que só os doentiamente
pretensiosos têm a veleidade de gastar tempo e dinheiro para tentar essa missão
impossível para os seres humanos. Procedem dessa maneira inconscientemente, por
possuírem um modelo mental improdutivo, por desconhecer para que são pagos pela
organização, por deficiência conceitual, que racionalizam dizendo que a teoria
na prática é outra, por falta de coragem moral de admitirem que não conhecem
suficientemente bem a teoria para aplicá-la no dia-a-dia.
Justo equivale segundo o Aurélio: a razão imparcial, reto,
exato, homem virtuoso, tudo insinuando divindade. Justiça, grosseiramente, é
aplicação da lei genérica a um caso particular. Ela surge das convenções
humanas. Classicamente tem dois sentidos: a) dar a cada um o que lhe é devido;
b) reparar o dano, indenizando a vítima ou punindo o infrator – Dicionário de
Ciências Sociais – MEC-FGV. O Aurélio nos diz, que critério é o que serve de
norma para julgar; modo de apreciar coisas ou pessoas. Para não tornar o texto
mais longo deixo de colocar para discussão o que possa ser princípio, que
muitos confundem com conveniência.
Outro cliente de mentoring, um físico, pesquisador e
empresário me questionou se eu ao colocar que é esforço inútil e perda de tempo
e de dinheiro procurar ser justo, não estaria fazendo a apologia da tirania.
Esta já é amplamente praticada nas organizações. Quantos dos leitores já não
ouviram ou pior já sentiram na própria pele a consequência da tirânica frase:
manda quem pode e obedece quem tem juízo, que tem como objetivo inibir o
exercício do direito humano fundamental da expressão do pensamento. A cidadania
ainda não chegou à maioria das organizações. Lamentável! A sociedade evoluiu
mais rapidamente que as organizações empresariais no que diz respeito à
cidadania.
A definição de critério para decidir, para dizer sim ou não,
para avaliar o desempenho de seus subordinados e do negócio em si, é que deve
ser a preocupação do executivo e, não a preocupação paralisante em está sendo
justo ou injusto.
O estabelecimento de critérios requer esforço, trabalho,
competência, respeito ao ser humano, ética, desprendimento para limitar seus
próprios caprichos. A grande maioria de executivos e de empresários não
estabelece critérios de avaliação por que, sem eles, podem manipular a equipe
com seus humores, seus caprichos, com seus ataques de fúria ensandecida de
arrogância e prepotência. As perdas decorrentes dessa forma de gerir as pessoas
e as organizações são irrelevantes para quem tem como único objetivo satisfazer
unicamente a si mesmo e como objetivos subsequentes ele mesmo. Possuem,
equivocadamente, a percepção de que a organização lhe concede poder divino. O
proprietário do capital, frequentemente, acha que a empresa é sua. O que com
certeza é dele é o capital aplicado no negocio e, se tiver competência, a
capacidade gerencial. Os funcionários não são dele, estão trabalhando para a
organização, os clientes, os fornecedores e toda a infraestrutura que utiliza
não são dele. Muitos nem se dão conta que têm o pior patrão: o cliente.
Parcela significativa não possui critérios divulgados e menos
ainda compartilhados para validar decisões referentes a objetivos, estratégias,
metas, promoção, avaliação de desempenho, treinamento, delegação, aumento de
salário, demissão e admissão. Muitos, ainda, admitem por fantasia e demitem por
capricho.
Quando perguntado sobre quais são seus objetivos
empresariais? Respondem com frequência: ganhar dinheiro! Falta-lhes a
compreensão do dilema financeiro clássico entre a busca da melhor combinação
entre as ações de curto e longo prazo e a combinação equilibrada dos objetivos
essenciais das organizações empresariais. Executivo ou empresário, a
organização lhe paga para construir o tripé da sobrevivência, da segurança e do
desenvolvimento, com qualidade de vida da equipe, com responsabilidade social e
ecológica.
A preocupação em tentar ser justo e em não errar, deve ser
substituída pela construção de um arcabouço de critérios o mais possível
compartilhado com a equipe. Diria mesmo legitimado por todo o grupo. Do
contrario, no médio prazo, os executivos, por usarem filtros perceptivos
viciados, utilizarão mecanismo de defesa que os protegem da dor de perceber a
verdadeira origem do problema. Elaborarão complexo processo para justificar os
resultados desastrosos com racionalizações do tipo: a equipe está desmotivada,
o achatamento da estrutura acarretou-me excessiva carga de trabalho, estou
muito ocupado, não tenho tempo para planejar, organizar, treinar e avaliar a
equipe, a culpa é da concorrência predatória, dos juros altos e da abertura do
mercado. Desqualificam o melhor dos feedbacks: os resultados obtidos pelo seu
estilo de gerenciar a organização, as pessoas e a sua vida.
Autor: Jansen de Queiroz Ferreira – Administrador, Economista, Consultor em Gestão Diretor da Polifocal,
Coaching e Mentoring de empresários, sucessores, executivos e de profissionais
autônomos. – http://www.gestaopolifocal.com.br – E-mail: jansen@gestaopolifocal.com.br
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