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quarta-feira, 2 de junho de 2010

EDUCAR PARA A VIDA

Esta semana li um texto sobre educação escrito por Rubens Alves, poeta, cronista do cotidiano, contador de histórias, um dos mais admirados e respeitados intelectuais do Brasil. Pela sua beleza e profundidade resolvi reproduzi-lo aqui. Escreve Rubens Alves:

Já li muitos livros sobre psicologia da educação, sociologia da educação, filosofia da educação – mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à educação do olhar ou à importância do olhar na educação, em qualquer deles.

A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm de ser educados para que nossa alegria aumente.

A educação se divide em duas partes: educação das habilidades e educação das sensibilidades. Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido.

Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.

Para as crianças, tudo é espantoso: um ovo, uma minhoca, uma concha de caramujo, o vôo dos urubus, os pulos dos gafanhotos, uma pipa no céu, um pião na terra. Coisas que os eruditos não vêem.

Na escola eu aprendi complicadas classificações botânicas, taxonomias, nomes latinos – mas esqueci. Mas nenhum professor jamais chamou a minha atenção para a beleza de uma árvore ou para o curioso das simetrias das folhas.

Aprendemos palavras para melhorar os olhos. As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna como criança jamais será sábio.

As crianças têm experiências místicas. Experiência mística não é ver seres de um outro mundo. É ver este mundo iluminado pela beleza.

Autor:

Rubem Alves – Nasceu em 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, Minas Gerais. É Mestre em Teologia, Doutor em Filosofia, psicanalista e professor emérito da Unicamp. Tem três filhos e cinco netas.

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