Solicitados, numa de nossas palestras, a
sugerir a leitura de um livro especial na abordagem de conceitos e práticas
sobre clima organizacional, indicamos a Bíblia – o que causou certa estranheza
– pela equivocada percepção da abrangência, e da profundidade, desse best-seller
– um legitimo manual de qualidade da vida. Missão, visão, valores, princípios,
normas de procedimento e metas, elementos que ganharam status organizacional
no século XX, constam nas Escrituras de forma explícita.
Uma das primeiras referências encontra-se
na construção da Arca de Noé. A ordem de serviço veio com todas as
especificações técnicas: “Faze uma arca
de tábuas de cipreste; nela farás compartimentos e a calafetarás com betume por
dentro e por fora. Deste modo a farás de trezentos côvados será o comprimento,
de cinquenta, a largura; e a altura, de trinta. Farás ao seu redor uma abertura
de um côvado de altura; a porta da arca colocarás lateralmente; farás
pavimentos na arca: um em baixo, em segundo e um terceiro” (Gênesis 6: 14 a 16).
Hoje, produtos e serviços são desenvolvidos
obedecendo normas técnicas internacionais, cujos certificados são verdadeiros
passaportes para a inserção das empresas nos negócios globalizados. Entre as
habilidades gerenciais de Noé destaca-se a sua capacidade de planejamento
organizacional, disciplina tática no cumprimento do cronograma, “ouvido de
mercador” frente às provocações dos incrédulos de plantão e a aguçada percepção
no aproveitamento das características individuais de cada um de seus
colaboradores. Formou uma equipe, motivou-a, alocou recursos, estabeleceu
processos operacionais, distribuiu tarefas, informou o prazo e gerenciou o
andamento do projeto. Noé não foi apóstolo da burocracia.
Outro personagem histórico da Bíblia é José
do Egito – administrador admirável (Gênesis 41: 37 a 45) que pode ser comparado
com o CEO (Chief Executive Officer) Presidente Executivo de hoje.
Notabilizou-se, principalmente, pela administração do país nos períodos “das sete vacas gordas e das sete vacas
magras” – interpretada como anos de fartura e de escassez. Em termos de
relacionamento interpessoal, a vida de José é uma das mais comoventes e
atraentes da história.
As vagarosas e silenciosas passadas de
Moisés pelo deserto o colocaram, também, na galeria dos protagonistas que
agregam valores à gestão de recursos humanos. Dentre os seus desafios
destaca-se a complexidade no atendimento das necessidades dos milhares de
judeus que liderava à caminho da Terra Prometida. A solução do problema partiu
de seu sogro, Jetro, quando lhe disse: “E
tu, dentre todo povo, procura homens capazes, tementes a Deus, homens de
verdade, que aborreçam a avareza; e põe-nos sobre eles por maiorais de mil, maiorais
de cem, maiorais de cinquenta e maiorais de dez; para que julguem este povo em
todo tempo, e seja que todo negócio pequeno eles o julguem: assim a ti mesmo te
aliviarás da carga, e eles a levarão contigo” (Êxodo, 18: 13 a 26).
Nascia, assim, uma metodologia de
descentralização do poder – o “calcanhar de Aquiles” das atividades humanas.
Reagimos como democratas, mas agimos como autocratas. Esta é a mais devastadora
das causas de desmotivação de funcionários e do desaparecimento prematuro de
promissoras lideranças. O clima organizacional das empresas depende,
essencialmente, de uma política estratégica que consolide a seguinte prática:
dar oportunidades (iguais) para que os funcionários possam revelar e/ou
desenvolver o seu potencial. Questionar as ideias, não as pessoas é a mais
eficaz das estratégias para manter a indispensável “oxigenação” do processo gerencial.
Pense nisto!
Autor:
Faustino Vicente
– Consultor de empresas e de órgãos públicos, professor e advogado – faustino.vicente@uol.com.br
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