Na
mitologia grega, Mentor era o sábio e fiel amigo a quem Ulisses confiou a
educação de seu filho Telêmaco antes de partir para a Guerra de Tróia. De
acordo com a narrativa homérica, a própria deusa da sabedoria, Atena, escolhia
as palavras com que Mentor dava seus conselhos. Atena jamais pôde ser
encontrada para comentar essa afirmação, mas a palavra mentor passou para todas
as línguas como sinônimo de conselheiro sábio e confiável. Também deu nome a
uma das práticas que cada vez mais se espalham pelas grandes empresas: a
mentoria.
A
mentoria é um acompanhamento formal de toda a carreira de um profissional cujo
talento e potencial são reconhecidos pela empresa. Em geral, é feita por um
colega de trabalho, alguém mais experiente, numa posição hierárquica superior,
mas não necessariamente o chefe. Às vezes, o mentor também pode ser um
profissional respeitado, de fora da empresa. Ele atende com hora marcada e tem
objetivos a cumprir, como dar mais segurança ao executivo ou orientá-lo. Ele
acompanha cada passo da carreira dele, orienta as tomadas de decisão e procura
ensinar a lidar com a politicagem no ambiente de trabalho. O trabalho mais
intenso ocorre em períodos de promoção, adaptação a novas culturas, transição
de comando, mudança de cidade ou país. 'O mentor é fundamental nas empresas
modernas, que têm jovens bem formados academicamente, mas imaturos para assumir
cargos de responsabilidade', afirma Willian Bull, da consultoria de recursos
humanos Mercer.
Nos
Estados Unidos, a mentoria virou rotina. Um exemplo clássico foi a passagem do
bastão na presidência da GE, uma das maiores empresas do mundo. O ex-presidente
Jack Welch passou um bom tempo como mentor de seu sucessor, Jeff Immelt. Mas
será que essa prática funciona em todas as empresas? Uma pesquisa recente feita
pela Harvard Business Review, uma das mais respeitadas revistas de
administração do mundo, dá um sinal positivo. No estudo, foram entrevistados
1.250 executivos americanos. Dois terços deles tiveram um mentor em sua
carreira. Segundo a pesquisa, eles são mais bem recompensados e mais
satisfeitos com o trabalho que os colegas que não contaram com um mentor.
O
processo é mais comum nos cargos de alto escalão, quando um executivo é
preparado para assumir o comando de uma área ou de toda a empresa. Mas há
empresas que estendem o programa de mentoria a um grupo maior de empregados. A
Telemar vai começar, nos próximos dias, um programa ambicioso para treinar 300
pessoas que a empresa considera seus futuros líderes. Para cada um desses
profissionais, haverá um mentor. O objetivo da Telemar é reter talentos, o bem
mais valioso e disputado na economia do conhecimento. A meta é conseguir manter
90% dessa turma na empresa após três anos.
Mas
isso não significa que a mentoria seja uma solução fácil nem sem custo. De
acordo com os especialistas, ela demanda muito tempo e energia. Quem não tem
disponibilidade para investir no aprendizado nem deve pensar em ter ou ser um
mentor. Também é preciso compromisso e afinidade entre os profissionais para
que a mentoria tenha sucesso. Outro problema é quando ela se torna apenas uma
regra burocrática e torna obrigatórias práticas que devem ser seguidas com bom
senso. Assim como todas as técnicas de gestão, a mentoria não pode se tornar
uma camisa-de-força - conselho que, segundo consta, a própria deusa Atena teria
enviado por meio do mitológico Mentor.
Baseado no artigo da autora: Patrícia Cançado - http://revistaquem.globo.com/
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