Esta
semana recebi o telefonema de um antigo e competente aluno. Ele me procurou
para pedir o meu conselho, pois pretendia pedir demissão da empresa onde
trabalhava na alta gerência por julgar não ser reconhecido. Iria aventurar numa
outra atividade!
Passou
mais de uma hora me dando argumentos para que “eu o apoiasse” na sua decisão.
Eu disse
que ao invés de pedir demissão deveria procurar aprimorar os seus processos; estudasse e
aprendesse novos métodos, etc. Que não ficasse aborrecido quando ninguém
percebesse ou comentasse aquilo que ele que havia feito. Afinal, o sol faz um enorme espetáculo ao nascer, e mesmo assim a
maioria das pessoas continua dormindo... Foi aí que eu me lembrei de um dos
capítulos, do livro de Fábulas e Lendas, de Leonardo Da Vinci, intitulado “A Navalha”
e resolvi relatá-lo para ele. Conta
o livro:
Era
uma vez, (todas as boas histórias começam assim), uma navalha de excelente qualidade,
que morava numa barbearia.
Certo
dia em que a loja estava vazia, ela resolveu dar uma voltinha. Soltou-se do
cabo e saiu para apreciar o lindo dia de primavera.
Quando
a navalha viu o reflexo do sol em si mesma, ficou surpresa e encantada. A
lâmina de aço lançava uma luz tão brilhante que, subitamente, com excessivo
orgulho, ela decidiu: – Eu não vou voltar para aquela loja de onde acabei de
fugir. É claro que não! Deus não pode querer que uma beleza tal como a minha
seja desonrada dessa maneira.
Seria
loucura ficar aqui cortando as barbas ensaboadas daqueles camponeses, repetindo
sem cessar a mesma tarefa mecânica!
Será
que minha beleza foi realmente feita para um trabalho desses? Certamente não!
Vou me esconder num local secreto e passar o resto da vida em paz.
Em
seguida foi procurar um esconderijo onde ninguém a visse.
Passaram-se
meses. Um dia, a navalha teve vontade de respirar ar fresco. Saiu cautelosamente
de seu refúgio e olhou para si mesma.
Deu-se
conta de que algo terrível lhe acontecera. A lâmina estava horrorosa, parecendo
uma serra enferrujada, e não refletia mais a luz do sol.
Ficou
muito arrependida pelo que havia feito, e lamentou amargamente a irreparável
perda.
Como teria sido melhor se eu tivesse conservado em forma a minha linda lâmina,
cortando barbas ensaboadas! Minha superfície teria permanecido brilhante e
minha borda afiada!
Agora, aqui estou eu, toda corroída e coberta de uma horrível ferrugem! E não
há nada a fazer!
O triste fim da
navalha é o mesmo que nos pode suceder quando nos permitimos a preguiça, quando
deixamos de utilizar nossos talentos.
Talento não utilizado
se embrutece, se perde.
Admiramos os
bailarinos, em suas performances impecáveis. No entanto, não podem se permitir
o abandono dos treinos diários, dos exercícios continuados.
De igual forma, os
acrobatas, os ginastas.
Se relaxarem, logo
perderão a elasticidade dos músculos, a plasticidade dos movimentos.
Assim também quem escreve, se deixa de fazê-lo, perde a leveza da forma, a possibilidade
mágica de juntar letras e criar poesia, compor romances.
Se desatendermos do
estudo, nossa capacidade de raciocínio declina.
Isso quer dizer que
quanto mais lemos, pesquisamos, mais aprimoramos nossa mente, agilizamos nossos
pensamentos.
O sábio homem de
Nazaré lecionou, na parábola dos talentos essa profunda lição, narrando a
diferença entre aqueles que utilizaram seus talentos e os multiplicaram e o que
optou por enterrar o seu, vindo a perdê-lo.
Por isso é que, por
vezes, desacostumados a ler, a estudar, vamos registrando deficiência gradual
da memória, como se nossa capacidade fosse enferrujando.
É assim que o
trabalho, essa ocupação útil, faz tanto bem ao corpo e à alma.
Na forja da atividade
física ou intelectual, aprimoramos corpo e mente, ampliamos possibilidades,
crescemos em capacidades.
Dessa forma, o convite
se faz para a leitura, o estudo, a pesquisa, a atividade física, como meios de
nos mantermos saudáveis, de corpo e alma.
Pense nisto e tenha
uma ótima semana!
Fonta: Redação do Momento
Espírita, com base no cap. A Navalha, do livro Fábulas e lendas, de Leonardo Da
Vinci, ed. Salamandra
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