Prof.A.Marins |
Sempre me questionei sobre o “medo” ou
“pavor” das pessoas ao serem auditadas. Concordo que ninguém gosta e ser
fiscalizado, mas sentir “medo”? Por mais que se diz que o que será auditado
será o processo e não ele, não adianta: a pessoa se sente insegura e fica
receosa quando chega o auditor.
Por mais que tento dizer para as pessoas
que sou consultor e estou ali para ajudar a empresa, sinto que sou visto com
rejeição. Isto também acontece mesmo quando a auditoria é interna e feita por
um colega. Como diz um parceiro meu: “não te espetam com agulhas por que não
têm um bonequinho de vudu!”
Reconheço que alguns auditores faziam do
medo a sua autoafirmação; os conhecidos como “caçadores de bruxas”.
Lamentavelmente ainda existirem alguns “profissionais” que preferem usar o medo
para se sentirem importantes, do que realizarem o seu real trabalho. Felizmente, está pratica já não é muito praticada em nosso país.
Como escreve Lawrence B.Sawyer, em seu livro Modern
Internal Auditing:
Alguns
auditores têm a noção clara de como as pessoas são importantes para a realização
do seu trabalho; outros podem sair dando pontapés e assustá-las. Mesmo conseguindo
superar essa postura, alguns auditores não sabem como lidar com pessoas. Existem
auditores internos muito bem intencionados, mas poucos são os que conhecem a
arte de conquistar pessoas que possam ajudá-los em seu trabalho.
Existe
um provérbio índio que diz: “Não julgues um homem até que tenhas calçado por um
dia seus mocassins”.
Isso
significa que você deveria tentar pôr-se no lugar do outro para que possa
realmente entendê-lo ou tenha o direito de criticá-lo.
Se o
auditor não atuar dessa maneira cometerá dois erros fatais: primeiro, ele fará
com que as pessoas questionem seus posicionamentos com o argumento de que ele
nunca passou por isso para compreender porque as pessoas erraram. Segundo, ele
não conseguirá que os erros detectados sejam corrigidos.
A
palavra mais correta para definirmos a postura das pessoas é DEFESA. Todos
estarão na defesa com o auditor, ou seja, tentando se proteger. Neste caso,
proteção contra o auditor.
O
auditor nesse momento representa uma ameaça. Eles o veem como alguém que descobrirá
seus erros, podendo até expô-los ao ridículo, relatando aos seus superiores.
Elas ficam ansiosas para conferir, ao término do trabalho de auditoria, se
alguma tarefa sob sua responsabilidade consta do relatório.
É só
lembrarmos-nos de quando éramos crianças e aprontávamos alguma bagunça e nossa
mãe ameaçava-nos com a seguinte frase: “Vou contar para o seu Pai”. Essa é mais
ou menos a visão que o auditado tem do auditor. Ele está em constante ameaça:
“Vou contar para o seu superior”.
Outro
problema é a postura do auditor frente aos achados de auditoria. Alguns auditores quando encontram ou ouvem sobre
alguma coisa que está sendo executada de modo errado, o fazem de forma a tornar
público e expor os envolvidos ao ridículo. É preciso que eles entendam que
estão tratando com pessoas e, desde de que elas não façam as coisas de má-fé, é
importante orientá-las e não ridicularizá-las por suas falhas.
Outro
erro é a questão da relevância. Muitas vezes detectamos pequenos erros e fazemos
grande alarde sobre eles. Também erramos quando tentamos mostrar para as pessoas
que somos mais inteligentes do que elas, usando nosso conhecimento para que se
sintam estúpidas.
Os
auditores internos devem levar em conta os problemas que as pessoas enfrentam
no seu trabalho, pois se não o fizerem as pessoas não darão crédito ao seu
trabalho.
Algumas
regras são fundamentais para tentar minimizar ao máximo o efeito do medo nos
trabalhos de auditoria:
1. Antes de entrar no local onde realizará a
auditoria, ligue para o responsável. Através de uma conversa amigável, procure
informar sobre sua chegada e assegure que procurará interferir o mínimo
possível na rotina diária dele. Procure deixá-lo à vontade, pois se você de
saída deixá-lo apreensivo, todas as outras pessoas que trabalham com ele também
ficarão.
2. No seu
primeiro dia no local da auditoria, procure ser agradável com todos, desde o
administrador até o funcionário menos graduado. Passe a seguinte mensagem: “Eu
sou um convidado na casa de vocês.” Essa tem que ser a sua atitude durante toda
a auditoria.
3. Sempre
que se dirigir às pessoas com perguntas ou pedidos de explicações seja amigável
e respeitoso, seja ele o administrador ou o menos graduado. A confiança não se
conquista imediatamente, ela vai sendo construída durante o trabalho.
4. Existem maneiras de agir frente aos erros
encontrados. Ache alguma coisa errada e vá diretamente ao gerente sem falar com
a pessoa que cometeu o erro e você estará jogando todo o seu trabalho na lata
do lixo.
5. Procure
passar para as pessoas envolvidas que você está analisando todo o sistema e não
apenas erros individuais. Os erros só são importantes se eles estiverem
inseridos no contexto total do sistema.
6. Não
fale apenas das coisas erradas que você encontrou, fale também das coisas boas,
pois é impossível que não existam virtudes nos ambientes que você está
auditando.
7. Outro
erro que o auditor comete é achar que as pessoas só gostam de ouvir coisas
boas. Pode parecer estranho, mas eu explico. Isto ocorre quando você termina um
trabalho de auditoria e não encontra nada, ou apresenta falhas irrelevantes,
quando todos sabem que existem falhas interferindo em seu trabalho e que não
foram detectadas pelo auditor. É a mesma coisa que você receber um prêmio ou
elogio por uma tarefa ridícula que você cumpriu com extrema facilidade.
Pense nisto e tenha uma ótima
semana.
Fonte: Curso – Auditoria Interna Operacional,
de Ibraim Lisboa (autor do curso Formação de Auditores Internos, Auditoria Interna Operacional entre outros)
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